Mulheres chinesas e os seus pés de lótus.

18-12-2010 18:58

 

 

 

O que hoje nos horroriza ao tomarmos conhecimento da existência dos “pés enfaixados”, ou “lótus de ouro”, que as mulheres na China suportavam, foi um costume adaptado desde o início do século X. 

Uma das versões apontadas para a existência desta prática, foi que, um imperador nos finais do século IX, ficou encantado por ver uma concubina com os pés muito pequenos, dançar sobre um palco em forma de flor de lótus, onde passou a derivar esse nome às mulheres chinesas que passaram a deformar os seus pés.

 

 

 

 

 

 

 

Outras fontes dizem que o nome se refere ao formato dos pés – que ficam curvados para cima, em forma de “lótus”, depois de anos e anos enfaixados com ligaduras apertadas o suficiente para quebrar os ossos, arqueando o pé e interrompendo assim o seu crescimento.

 

 

 

 

 

Esta prática foi instituída pelo imperador Tang cuja filha, a princesa Taki (que depois veio a se tornar imperatriz) nasceu com uma deformação óssea nos pés que impossibilitou o crescimento dos mesmos. Até atingir a idade adulta seus pés mediam apenas 8 cm. Com medo de  que sua filha fosse excluída e desprezada por não estar dentro dos padrões de outras jovens, ele como pessoa que detinha o poder maioritário instituiu a partir daquele momento que as jovens para estarem dentro dos padrões de beleza tinham de ter os pés pequenos como o brotar da flor de lótus, sobe pena de que quem não os tivesse não casaria, seria solteira para sempre pois não seria mulher suficiente para agradar um homem.

 

Naquele tempo era o imperador quem mandava, ele fazia a sociedade e a sociedade  o que ele queria. Todo mundo seguiu o que foi decretado tanto as famílias mais abastadas tanto os camponeses, pois não aceitavam que a filha do imperador fosse mais bonita que a sua.

 

 

 

Começavam a ser enfaixadas a partir dos cinco ou seis anos, uma tradição passada de mãe para filha cujo processo era torturante, porque as ligaduras dobravam os quatro dedos menores até a sola dos pés e forçavam o calcanhar para dentro, exagerando o arco. 

A carne apodrecia e as crianças choravam em agonia, incapazes de comer, beber ou pensar devido à dor, mas as mães faziam-no a pensar no futuro das filhas, porque nessa época, se não tivessem os pés pequenos, não arranjavam um bom casamento, uma vez que as mulheres de “pés de lótus” eram as preferidas pelos senhores de negócios, que se orgulhavam de possuir em sua casa, um “exemplar” tão cobiçado.
Famílias pobres viam neste processo a possibilidade de conseguir uma vida melhor para as filhas, para demonstrar valor e o status.
O que é facto, é que muitos chineses dessa época achavam os “pés de lótus” muito eróticos, considerados a parte mais íntima da anatomia da mulher.

 

Um pé enfaixado com sucesso, tinha de 7cm a 10cm. Andar era difícil: as mulheres oscilavam de um lado para o outro, o que também evocava a imagem da flor de lótus ao vento…

Estas mulheres não podiam fazer uma vida normal, porque não conseguiam andar sem ajuda, a não ser que se arrastassem. Tinham de ter alguém que as ajudassem a cuidar dos afazeres domésticos e que as ajudassem também a tratar das crianças.

Banquinhos eram colocados pela casa para que elas se movessem sem ter de pisar o chão, ou teriam de andar sobre os joelhos, com inchaços e bolhas de proporções excruciantes. O lazer de muitas destas mulheres era criar e bordar sapatos que elaboravam para si mesmas. A habilidade para decorar esta deformidade fazia parte da "arte" daquela época.

Durante última dinastia chinesa Qing, tentaram banir esta prática, mas ela estava tão enraizada, que não surtiu qualquer efeito e as mães de família continuaram a enfaixar os pés das suas filhas, na esperança de lhes assegurar o futuro através do casamento com um homem rico. Este costume só foi abolido em definitivo, quando os comunistas tomaram o poder em 1949.

As mulheres que viveram desde crianças com os seus pés atados, apesar das suas histórias do martírio e da dor que envolveu o enfaixe dos pés, sentem porém um grande orgulho por terem atingido a beleza imposta pela sociedade e pelos homens, que as admiravam naquela sua deformidade pois, com os pés enfaixados, a mulher caminhava de forma vacilante, o que, segundo a crença, tinha um efeito erótico nos homens, sobretudo porque ela parecia vulnerável e despertava neles um impulso protector.

Repentinamente e com a reforma comunista, estas mulheres passaram a ser objecto de escárnio, tornando-se a ser tão repulsivo, quanto ridicularizado esse seu andar.

Hoje, olhando para estes sapatinhos na palma da mão, de tão incrível pequeneza que desafiam a descrição e fico a pensar, quanto sofrimento foi preciso para um pé humano ficar naquele tamanho? Quanto sofrimento foi preciso para estas mulheres agradarem e, essencialmente, para sobreviver, sacrificando-se assim à diferença... Pese a sua opressão secular, as mulheres chinesas traziam no peito a revolta, a coragem e uma imensa capacidade de lutar para transformar a vida.

Um poema do começo da dinastia Song, do poeta e político Su Shi, que viveu de 1036 a 1101, exalta as beldades dos pés enfaixados, mas reconhece a sua dor:

 

"Ungida com fragrância, ela tem passos de lótus;

Ainda sempre triste, caminha com rápida leveza.

Ela dança como o vento, sem deixar vestígios

Outra furtiva, mas alegre, veste-se ao estilo do palácio,

Mas sente tal sofrimento no andar!"

 

Apesar deste costume parecer cruel e bárbaro para o pensamento moderno, estudiosos lembram que, no Ocidente, algumas mulheres compram sapatos muito pequenos para parecerem mais atraentes e sujeitam-se a usar saltos bastante altos para ficarem mais elegantes. 
 
 
 
 
Adaptado da FONTE: https://valium50.blogspot.com